segunda-feira, 25 de junho de 2007

O início de uma aula.

Existe sempre aquele momento de excitação (escrevo isso sobre aqueles professores que chegam antes dos alunos): os primeiros alunos que entram na sala, com um olhar de estranhamento por serem os primeiros ou pelo silêncio na sala; os que chegam com a cabeça em outro lugar, mas levam o corpo para a aula a duras penas. Há também os que estão animados com o que vai ser trabalhado em seguida, prontos para experimentar uma nova queda, já sonhada tantos dias antes da aula e que algo nos diz que “hoje sai”. Para o professor a aula começa aí. Não se enganem pensando que nós não aprendemos tanto – ou mais – do que os alunos. Estão todos ali, na sua frente. Basta aprender a olhar.

Trocam de roupa, conversam sobre a vida ou colocam-se em posição silenciosamente, aguardando que todos estejam em seus lugares para o começo da aula. Mas a aula já começou. Esses cinco ou dez minutos servem para que possamos nos conectar com o espaço que ocupamos e com o nosso corpo. Escolhemos como e onde nos posicionar na sala e sentimos as condições do nosso corpo neste dia. Digo a vocês: isso é mais importante do que um alongamento ou um aquecimento puramente físico. É a hora de perceber a quantas anda nossa musculatura, como está nosso humor nesse dia, os pensamentos que trazemos do mundo exterior e se nossa atenção está mesmo ali.

E então começam os alongamentos. Cabeça no joelho? Barriga na coxa? Sem dobrar o cotovelo? Ele está louco se acha que minha perna estica assim! É possível? Mas ela já fazia ginástica! O trabalho minucioso, difícil, dolorido, em que partes do nosso corpo que habitam extremidades longínquas tentam se tocar. Não adianta se balançar para frente e pra trás, se puxar, te empurrarem em direção aos pés. Basta deixar as tensões se dissiparem e ceder. É um jogo de aceitação com o nosso corpo - oferecemos mais amplitude de movimento e ele nos dá dor. O corpo tem motivos para isso, mas prometo falar mais sobre a dor em outra coluna. Só adianto que não sou eu quem pensa sozinho nessas coisas; porém deixo para revelar minhas fontes outro dia.

Aos poucos, vamos deixando esse corpo pronto para as coisas extraordinárias que faremos em seguida. Voar! Saltar! Manter diversos objetos no ar!

E tem gente que prefere ver isso na TV...